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Instituto Tecnológico de Aeronáutica

Inovação na forma de ensinar

Flexibilização: espaço para competências transversais

A ampliação das áreas de atuação do ITA, com a consequente reestruturação e modernização da forma de ensinar Engenharia integra, com a nova infraestrutura física e o aumento do número de vagas e de docentes, o grande tripé do programa de expansão do Instituto.

A proposta de alteração do regime escolar da escola, de seriado para uma solução mista - parte seriado e parte em créditos-, é uma das alternativas de flexibilização da grade curricular. Também se estuda um modelo que possibilite ao engenheiro do ITA obter um certificado de formação adicional por meio de “minors” (formação transversal às engenharias tradicionais, ao invés de criar novos cursos de Engenharia – veja figura).

Essa formação adicional possibilitaria teria como função prover, também, formação, horizontal, de competências e habilidades exigidas do novo profissional da engenharia: criatividade, tratamento de problemas complexos, trabalho em equipe e liderança, empreendedorismo e atender a novos requisitos profissionais (“soft skills”).

A reestruturação e a renovação do ensino de engenharia, por sua vez, vêm sendo discutidas no âmbito de um Grupo de Trabalho de Ensino de Engenharia (GTEE). A ideia é institucionalizar os estudos e proposta de reforma de ensino como atividade permanente das pró-reitorias (especialmente de Graduação).

Dentre as iniciativas que deverão ser implementadas está a adaptação do projeto D-Lab (iniciativa originalmente desenvolvida no MIT, com o objetivo de propor soluções de Engenharia para comunidades carentes) ao contexto do ITA, como atividade educacional adequada para os alunos dos primeiros anos.

Leia a seguir entrevista com o Prof. Carlos Henrique Costa Ribeiro, da Divisão de Ciência da Computação e membro do GTEE sobre a renovação do ensino de engenharia no ITA.

O projeto de expansão do ITA pressupõe, também, e, principalmente, uma reestruturação e renovação do ensino de engenharia. Quais as diretrizes básicas do GTEE nesse sentido?

Prof. Carlos Henrique - Quando foi formado em 2012, o GTEE (Grupo de Trabalho de Ensino de Engenharia) tinha como missão propor um modelo para a formação dos novos docentes do ITA que contemplasse as demandas para a formação do novo engenheiro: forte formação técnica aliada a habilidades de trabalho em grupo, desenvolvimento de habilidades de comunicação - inclusive em ambientes internacionais, e desenvolvimento das capacidades de empreender e inovar. Com o passar do tempo, percebeu-se a necessidade de uma ação mais institucionalizada, e atualmente o GTEE tem como diretrizes a execução de ações de renovação em âmbito local - ou seja, via reforma curricular em cursos e estratégias inovadoras de ensino em disciplinas, e em atividades com suporte institucional, como por exemplo o acordo ITA/MIT.

Qual a importância de aliar, à formação vertical (“hard skills”), uma formação horizontal (“soft skills”) de competências e habilidades exigidas do novo profissional da Engenharia?

Prof. Carlos Henrique - É uma necessidade para o engenheiro atual, que opera em ambientes globalizados nos quais as soluções de impacto precisam ser produzidas com rapidez e eficiência. Na verdade, a formação integrada do engenheiro sempre foi necessária, mas por razões históricas houve, ao longo do tempo, desbalanceamentos que ora pendiam para uma formação excessivamente técnica, ora para uma formação excessivamente científica. Hoje, além de um balanceamento entre estas formações, há a necessidade clara dos chamados “soft skills”, que envolvem desde habilidades de comunicação com culturas diferentes e de trabalho em grupo até conhecimentos de Economia, Sociologia e outros tópicos que tradicionalmente não são vistos como “de Engenharia”. Sem essa combinação de habilidades e conhecimentos, o engenheiro pode até exercer satisfatoriamente sua profissão em escopos limitados, mas não será o engenheiro de concepção inovador que o ITA deseja formar.

Como o sr. vê a alteração do regime escolar do ITA, de seriado para o de créditos, ou uma solução mista?

Prof. Carlos Henrique - A flexibilização da formação é, a meu ver, uma necessidade para que tenhamos cursos adequados à formação desses novos engenheiros. Sou favorável a uma solução mista, em que, nos primeiros anos, há uma formação básica e forte em ciências e técnicas aliada ao desenvolvimento dos “soft skills”, tornando os alunos acostumados à Engenharia como contexto, e não apenas como um conjunto de conteúdos. Em seguida, uma flexibilização maior do currículo, de acordo com os interesses do aluno e da escola. Mas é fundamental que essa flexibilização pressuponha um aluno já educado com a visão contextual da Engenharia, ou seja, com a prática de desenvolvimento de projetos integrados de Engenharia desde o começo do curso. Sem isso, teremos alunos escolhendo especialidades sem discernimento suficiente sobre o que representa esta escolha, algo que, aliás, é bem comum nas formações tradicionais de Engenharia no Brasil.

No que consiste a iniciativa do D-Lab para o ITA?

Prof. Carlos Henrique - O D-Lab é uma iniciativa originalmente desenvolvida no MIT (Massachusetts Institute of Technology), com o objetivo de propor soluções de Engenharia para comunidades carentes. Essas soluções são desenvolvidas pelos alunos como atividades curriculares - cursos específicos e desenvolvimento de projetos, usualmente de curta duração e com imersão total no ambiente de desenvolvimento, no caso as próprias comunidades carentes. É uma iniciativa muito forte no MIT, com alta procura de alunos e forte impacto. No contexto do ITA, vemos uma adaptação do D-Lab para o nosso contexto como atividade educacional adequada para os alunos dos primeiros anos: envolve o desenvolvimento de habilidades de comunicação (inclusive com pessoas de estratos sociais muito diversos daqueles do típico iteano), trabalho em grupo, criatividade e desenvolvimento de projetos de baixo custo e com conteúdo tecnológico em nível de sofisticação que um aluno do primeiro ano de Engenharia não tem dificuldades para dominar. Em suma, uma experiência integrada de Engenharia como contexto, altamente motivadora para o “bicharal” do ITA. E, obviamente, o impacto social positivo dos projetos num país como o Brasil também é algo a ser considerado.

Que outros aspectos da reforma do ensino do ITA o sr. gostaria de destacar no Jornal AEITA?

Prof. Carlos Henrique - É importante observar que a nova formação do engenheiro não significa tornar a formação do ITA “mais fácil”. Pelo contrário, um modelo em que o aluno não apenas tem que estudar muita Matemática e Física, mas também saber aplicar as teorias dos livros em problemas reais, que envolvem pessoas reais, sociedades reais e custos reais, é muito desafiador. Resolver listas e escrever relatórios de laboratórios continuarão sendo atividades importantes para a fixação de certos conceitos e entendimentos, mas isso hoje é muito pouco. Por outro lado, não tenho dúvidas de que o jovem estudante de Engenharia de hoje pode ser muito mais confiante em sua ambição de “mudar o mundo”, desde que motivado. E nada é mais motivador para um futuro engenheiro do que “transformar” as complexas teorias aprendidas em soluções inovadoras e benéficas para a sociedade. Essa capacidade de transformação é o que de fato define a Engenharia.

 

Créditos: Ana Paula Soares/AEITA em colaboração com a Comunicação Social do ITA